Há algum tempo escrevi um post sobre "A incrível obsessão evangélica com eventos", e agora vou afunilar e escrever sobre "A incrível obsessão evangélica com as festas de natal". Dá vontade de criar uma colecção tipo "Anita" ou "Uma aventura...", mas com o título "A incrível obsessão evangélica com...". E acho que material não iria faltar :D
KOINONIA!
Mas agora a sério...O que tenho eu contra festas de natal? Nada. Assim como não tenho nada contra festas de Páscoa, de Pentecostes, de Dia da Reforma, de Dia da Bíblia, de Dia da Mãe, do Pai, do Avô e da Avó, dos netos. Ah, e já agora, de Ano Novo, de santos populares, de carnaval, etc etc etc etc. Aliás, para mim, quanto mais festas melhor, porque gosto de comunhão, de relacionamentos, de estar com pessoas. Koinonia, digo eu! E também há coisas que, claro, vale a pena assinalar. E claro, mais importante: são pretextos óptimos para convidar gente descrente para estar connosco. Sim, porque os nossos cultos nunca serviriam para isso, cruz credo!
Pois é, o natal é uma dessas datas. Mas o problema é que, ao contrário da Páscoa e do desgraçado do Pentecostes, o natal é o nosso auge (estava quase a usar aqui outra palavra, mas não, fica esta). É o nosso highlight de todo um ano de actividades, a nossa coqueluche! E o que é que acontece? Acontece que para se assinalar uma data, em muitas comunidades, põem-se os relacionamentos na prateleira durante os meses de setembro a dezembro, que é para entrarmos numa bolha de ensaios e de cantorias que nos fazem o inestimável serviço de nos separar do mundo lá fora mais um bocadinho, e nos enclausurar ainda mais na cápsula cristã, alheando-nos daqueles a quem supostamente queremos alcançar com as nossas mega-produções. [Pausa para respirar aqui - Selah....]
O MEU HISTORIAL COM FESTAS DE NATAL
Depois de anos a matar-me a mim e a outras pessoas com ensaios, tomei uma decisão: para mim chega. Dirigi-me ao meu Pastor, que me aturou nesta como em outras ocasiões, e fi-lo nestes termos: respeito a vossa opção por este formato e modelo de festa, mas eu estou fora de contribuir para organizar eventos que exigem de uma comunidade de 50 pessoas um esforço e um investimento maiores do que os recursos (físicos e emocionais) que temos. E além disso, disse eu, acho que não será necessário organizar mega-eventos para atrair pessoas, é só convidarmo-las para jantar ou tomar um café, viver a nossa fé com compaixão e hospitalidade, e o Espírito fará o resto.
A MENSAGEM
É que na minha opinião, o problema não são as festas, é entusiasmarmo-nos a pôr de pé espectáculos que são concebidos, na sua génese, com um único propósito: oferecer entretenimento às massas (e no processo, residualmente, fazer-nos inchar o ego, com tão boas produções que somos capazes de montar).
Claro que há uma mensagem muito importante para passar: nasceu o Salvador! Mas como somos cristãos a tempo inteiro, essa mensagem está sempre a ser passada, durante todos os dias do ano, através da nossa vida, das nossas palavras, do nosso andar, do nosso respirar. Nós cristãos, somos a encarnação do Evangelho de Cristo!...ou não somos? Ah, pois, se não somos, então se calhar precisamos de festas...e bem megalómanas, para fazermos nós num dia aquilo que não damos oportunidade ao Espírito Santo para fazer através de nós num ano, ano após ano após ano....peço desculpa, erro meu...
BOAS INTENÇÕES
Não quero com estas ironiazitas, de maneira alguma, ser desrespeitoso...tenho genuíno respeito por pessoas que trabalham arduamente nas igrejas, que servem com o seu tempo e talentos para que algo do Evangelho possa ser transmitido aos outros e, quem sabe, produzir algo transformador na vida de pessoas que ainda não conhecem Cristo. Mas, com toda a compaixão, quero dizer que me vem sempre à memória o Faraó a mandar os hebreus trabalharem (Exodo 5)...aumentai-lhes a carga, dizia ele aos capatazes, para que eles não tenham tempo para pensar em liberdade...e penso no diabo - do qual o Faraó é figura - a dizer aos demónios: ponham-nos a produzir, a trabalhar arduamente para o show, o espectáculo, a performance, para que eles, no meio da exaustão e/ou da adrenalina, não tenham tempo para pensar na liberdade sublime que existe na simples comunhão em redor de uma mesa, na qual estão sentados Jesus e os irmãos.
iME GUSTA LA NAVIDAD!
Termino dizendo que gosto do natal. Gosto mesmo. De jantar com a malta, de fazer convívios, e não acho mal usar o natal como pretexto (desde que não seja só no natal que nos lembramos das ditas pessoas, claro). Isso sim, vale a pena. Os relacionamentos valem a pena, o contacto humano, com tempo e descontraído, baseado numa vida de comunhão diária com Deus, com Jesus, no qual há descanso..os únicos mega eventos que Jesus organizou foram refeições. Milhares de pessoas, tudo a comer. Não é lindo?
Então, bom natal. De preferência bem perto de pessoas, com Jesus como Pessoa principal e central; e não apenas como menino, mas como o Homem-Deus que conseguiu para nós a liberdade.